Israel a moldar as linhas editoriais. Cartoon de 26/10/2024 em CTXT
Dizer que nenhum assassino quer testemunhas e repetir, neste momento, que Israel é contra a imprensa é desnecessário, porque há meses que é contra absolutamente tudo, sejam crianças, hospitais, campos de refugiados ou qualquer outra coisa que respire.
Na sexta-feira, 25 de outubro, três jornalistas dos canais de televisão Al Mayadeen e Al Manar foram mortos enquanto dormiam e vários ficaram feridos num ataque aéreo israelita em Hasbaya, no sul do Líbano. Os mortos são o operador de câmara Ghassan Najjar, o técnico de som da Al Mayadeen, Mohammad Reda, e Wissam Qassim, operador de câmara da Al Manar.
Os ataques ocorreram às 3h30 da manhã e atingiram um grupo de pequenas moradias que albergavam 18 jornalistas de pelo menos sete meios de comunicação social que trabalham na zona, incluindo a Al Jazeera, a Sky News Arabia e a TRT. Vários carros com sinais de "Imprensa" estavam estacionados em frente à casa.
Esta é mais uma execução a juntar aos muitos crimes de guerra que o Estado genocida de Israel cometeu, e continua a cometer, com absoluta impunidade. Israel já nem sequer se pronuncia sobre o assunto, nem sequer para repetir a treta habitual de"vamos abrir um inquérito".
Ainda não consigo processar a repugnância que sinto por todos os jornalistas e meios de comunicação social que defendem ou justificam genocídios quando não hesitariam em rebentar-lhes as cabeças sem piedade. Para além de serem a vergonha da profissão, são uns merdas como pessoas. Só em Gaza, pelo menos 183 jornalistas, operadores de câmara, fotógrafos e outros trabalhadores dos meios de comunicação social foram mortos desde 7 de outubro de 2023 até à data. Um grande número deles eram palestinianos.
Também aqui não estamos livres destes disparates. Um exemplo disto pode ser visto em Telemadrid com esta mensagem na rádio das mil colinas, que foi mais tarde apagada pelo organismo público de radiodifusão quando a mensagem perigosa já tinha sido devidamente transmitida.
A plataforma cívica Ação contra o Ódio (ACO), composta por profissionais da jurisprudência, do jornalismo, da literatura e do mundo académico, exigiu a demissão dos responsáveis pela redação, difusão e divulgação nas redes como notícia do comunicado das Forças de Defesa de Israel (FDI) que afirmava que seis jornalistas do canal Al Jazeera do Qatar eram militantes do Hamas. " Os jornalistas fazem parte da ala militar do Hamas que actua como vanguarda da guerra de propaganda do Hamas contra Israel", lê-se no título da conta oficial X do meio de comunicação social público de Madrid, juntamente com uma bandeira israelita.
Segundo a ACO, "a Telemadrid está a contribuir para colocar um alvo no peito de seis jornalistas, cooperando assim com o genocídio perpetrado pelo exército israelita".
Esta semana, Israel proibiu também por lei a agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) de operar no país, o que, na opinião da UNRWA, significará"o colapso do sistema humanitário", como se este não estivesse já suficientemente danificado. Para António Guterres, a proibição terá"consequências devastadoras para os refugiados palestinianos".
Esta decisão, contrária a todas as normas internacionais, levou vários especialistas a pedir a expulsão ou a suspensão de Israel da ONU, mas qual foi a reação da ONU? Mais posturas, mais comunicados, mais um monte de disparates.
E lá está ele outra vez, Josep Borrell, Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e Vice-Presidente da Comissão Europeia, a declarar-se muito preocupado com as coisas muito preocupantes que o preocupam, enquanto o resto do mundo civilizado continua a perguntar-se por que raio não fazem nada de verdadeiramente eficaz e real para travar os genocidas no seu caminho.
A Europa está a deixar uma bela imagem de estar do lado errado da História que nunca esqueceremos. Sobretudo na Alemanha, onde até uma exposição de desenhos de crianças está a ser censurada por ser "demasiado política".
Segundo a Al Jazeera, mais de 41.800 pessoas morreram num ano de genocídio israelita contra os palestinianos em Gaza. O Ministério da Saúde de Gaza confirmou a identidade de mais de 34.000 delas. Estes são os seus nomes.