Tensão" no Médio Oriente. Cartoon de 14/04/2024 em CTXT
TR: "Não percebo como é que isto chegou a este ponto".
A "tensão" no Médio Oriente varia em gravidade, dependendo de quem a relata. Por vezes, é o prelúdio de uma iminente terceira guerra mundial e, outras vezes, é um simples incidente quotidiano que não tem mais força do que um título na página 13.
Quando Israel bombardeou um edifício anexo à embaixada iraniana em Damasco, na Síria, a 1 de abril, com a intenção óbvia de fazer explodir a embaixada, deixando onze mortos e arrasando o edifício, ninguém falou de "Terceira Guerra Mundial". Ninguém levantou as mãos à cabeça ou falou de um ato de guerra. Era normal.
Quando Israel foi questionado sobre a razão deste bombardeamento. Como de costume, mostrando o cinismo que caracteriza a manada de assassinos que é o exército de Israel, um porta-voz militar disse: "Não fazemos comentários sobre notícias publicadas na imprensa estrangeira".
O bombardeamento da embaixada iraniana por Israel ocorreu dias depois de outros ataques israelitas na Síria, nos quais foram mortas pelo menos 53 pessoas, das quais 38 seriam soldados e sete membros do Hezbollah. Também nessa ocasião, o mundo não se preocupou com a "escalada" da "tensão".
No entanto, quando o Irão respondeu a este ato de guerra, durante a madrugada de 13 para 14 de abril, não houve praticamente nenhum meio de comunicação social que não falasse de agressão, ataque, guerra, etc. E o trending tontic era, evidentemente, a "Terceira Guerra Mundial", sem qualquer vestígio do direito do Irão a defender-se. Esse direito é agora apenas de Israel.
Nessa altura, o Presidente francês Emmanuel Macron parece acusar o Irão de"desproporção" contra Israel e confirma a intervenção francesa.
Mas Borja Sémper, que nunca perde uma oportunidade de desagradar, considera que"a Espanha não pode estar equidistante entre a ditadura do Irão e a democracia de Israel".
Semper refere-se a essa democracia, a última ou a única do Médio Oriente (papagueada pelos meios de comunicação social) que já assassinou mais de 33.000 civis(40.000 segundo o Euro-Med Monitor) às claras. Israel não tenciona parar de matar enquanto não os eliminar do mapa do território que ocupa ilegalmente há décadas.
Pois bem, hoje Israel já concre tizou a sua promessa de responder à resposta do Irão e o guião foi repetido. Os porta-vozes da máquina de propaganda israelita não vos dirão outra coisa: Israel está a defender-se. Sem contexto, com um mínimo ou nenhum historial. É assim que funcionam os geómitos camuflados de jornalismo.
Pacto de Assassinos
Israel não abandonou o seu plano de invadir Rafah enquanto negoceia com os EUA a sua resposta ao ataque do Irão. Os EUA deixariam Israel continuar o genocídio na Palestina em troca de "contenção" contra o Irão. Não há nada mais nojento e embaraçoso.
Aí temos dois Estados assassinos que negoceiam com a vida das pessoas sem vergonha e sem se esconderem. Aqueles que podem fazer alguma coisa ficam a ver e continuam a fazer "gestos".
Gestos como o de voltar a pedir o reconhecimento do Estado da Palestina (que existe, existe de facto, deveriam antes pedir a sua não aniquilação).
Mas é claro. Os Estados Unidos vetaram o pedido palestiniano de ser reconhecido como Estado membro de pleno direito da ONU, bloqueando assim uma resolução que apoiava um estatuto que os palestinianos há muito procuravam nas Nações Unidas, onde são considerados um"Estado observador não membro". Portanto, não há mais defesa. O caminho está livre para o genocídio.
Proibido falar sobre genocídio e ocupação
Tudo isto é possível, em grande parte, graças ao trabalho inestimável dos meios de comunicação social do império em declínio e dos países que os imitam no Ocidente como cangaceiros submissos.
O New York Times deu instruções aos jornalistas que cobrem o extermínio de Israel na Faixa de Gaza para restringirem o uso dos termos "genocídio" e "limpeza étnica" e "evitarem" o uso da expressão "território ocupado" ao descreverem o território palestiniano, de acordo com um memorando interno obtido pelo Intercept.